terça-feira, 12 de novembro de 2019

Deja Vu



A mesma noite acordado.
Amanheci enrolado nos lençóis do lamento.
Deitado no travesseiro de um tempo
Que eu acreditei já ter passado.
As mesmas dores. Nada muda.
Não o que está ao nosso redor.
E se nós mesmos não mudarmos, tudo parece pior.
Nada que vem de fora ajuda.
Os mesmos sonhos sem sentido.
Com a mente servindo de armário.
para os mesmos monstros imaginários.
E o ego agredido.
O mesmo barulho na janela.
E a chuva que aqui dentro dura horas.
Me afogando em esperas e demoras.
lá fora parece tão singela.
É só mais do mesmo tabu.
As mesmas agulhas que me injetam o mesmo veneno.
Como se eu tivesse preso num looping do tempo.
Só mais uma sensação de Deja vu.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Livre

Existem muitos tipos de prisão. Algumas delas envolvem grades, outras precisam apenas de um cérebro vulnerável.

Preciso desesperadamente ser livre. Me soltar das amarras invisíveis que prendem meu eu mais sincero aqui dentro, pelo medo de não ser aceito.

Preciso urgentemente encontrar o lugar onde eu possa me ser de verdade, sem peles, sem mascaras, sem a constante e cansativa vigilância dos meus atos.

Preciso achar a a raiz da árvore certa, onde quando eu sentar vou sentir o coração descansado, os medos liquidados, a ânsia de ser aceito dissipada.

Preciso achar o caminho de casa. Achar o lar onde eu vou me sentir protegido. Onde acima de tudo eu não precise me sentir arrependido por ser essencialmente o meu eu verdadeiro.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ciclo.


Viver pode ser um exercício desgastante.
É um mundo lotado com 7 bilhões de errantes.
Rostos mascarando almas vazias.
Sorrisos secos disfarçando nostalgia.

Uma busca desesperada por atenção.
7 bilhões de cabeças batendo sem direção.
Todos os movimentos certos com destinos equivocados
Todos os sentimentos certos mirando alvos errados.

um ciclo vicioso de um sofrimento que cria reféns
Maria que amava Joaquim, que amava Lili que não amava ninguém.
E se João Calvino por acaso tivesse razão?
E cada um de nós já viesse ao mundo salvo ou predestinado à condenação?

Explicaria toda uma vida de tentativas falhas
Explicaria o fracasso à despeito da doação nas batalhas.
Explicaria por que tanta desvalorização.
Explicaria o parco retorno à dedicação.

Todos os dias são inúmeros murros em pontas de faca.
Mas a esperança se mantém, essa devoradora de almas.
A esperança, que é o pior dos sentimentos.
Por que não muda o destino, mas prolonga o tormento.

Viver pode se tornar um exercício frustrante.
Pagamos um preço alto demais por falsos diamantes.
São 7 bilhões de vidas perdidas em superficialidades.
São sentimentos verdadeiros tratados com trivialidade.
É plantar esperança e colher hectares de rancor.
É como perder na mesa de jogo da vida, todas as fichas que apostou.




sábado, 21 de junho de 2014

Ressaca

Se existe um limite pra o tédio, avisem-no que o estou procurando.
Já faz tempo, não sei nem lembro, vivo a vida vegetando.

Cometi um assassinato, mas não sei como matei meus sonhos.
A ultima vez que os vi vivos, parece fazer um punhado de anos.

Seria esquizofrenia? Ou somente essa apatia que vai me tomando aos poucos.
não recordo nem mesmo quando me foi nascendo esse oco.

Sou só a ressaca do que um dia, eu acreditei que era.
A sombra de uma mentira enterrada na inércia.

Se existe um limite pro tédio, avisem-no que o estou procurando.
preciso achar a porta de saída, desse nada onde estou vagando.

domingo, 11 de maio de 2014

O que eu sou?



É engraçado como palavras podem levar você de tudo a nada.
Como elas podem te levar de gênio a uma simples piada

Tem horas que sou um grande herói adorado,
Em outras apenas mais um vilão rejeitado

Sou luz, escuridão,
sou carma, salvação,

perdição...

Sou uma gota de água num mar cheio de óleo.
Sou mais uma gota de óleo, num mar com pouca água.

Que nada.

Sou uma figura inventada. uma alma bagunçada.
Eu sou o sangue na ponta da espada.

Sou rei, sou plebeu, sou Tebaldo, sou Romeu
Sou de tudo um pouco, menos eu.

Sou doente, sou carente, sou demente, por vezes inteligente.
Anormal, irreal, gentleman, neanderthal.
Animal.

Sou um príncipe num cavalo branco, o dragão que guarda o castelo.
Sou o melhor espadachim no duelo.

Sou o zelo, o pesadelo.
O tirano, o ditador, o pupilo, o mentor.
Sou aquele que causa dor.

Sou o melhor homem do mundo, o mais nobre e profundo
porém no outro segundo, viro imundo, um vagabundo.

Sou lei, sou anarquia. Sou agonia, alegria.
Sou veneno, sou ambrosia.

Palavras são mais perigosas, que armas carregadas.
Armas tomam tua vida, palavras dominam tua alma.

Definem o que você é... Determinam o que você tem.
Te fazem crer ser tudo, quando na verdade você não é ninguém.

quarta-feira, 12 de março de 2014

De quem é a culpa?

A culpa não é das estrelas, a culpa não é de ninguém, nem mesmo sei se existe culpa, ou se culpa é o que convém.
Mas culpa é o que eu sinto, sinto até por sentir, sinto por tudo o que sinto, e também se penso em não sentir.
A culpa é do excesso, da intensidade, do destempero, mas se tudo parte de mim, não seria culpa minha mesmo?
E tudo parece errado, se vem à passos lentos ou se vem demasiado, parece que não há meio termo pra eu não sentir culpado.

Sentir é muito complicado.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

The Story teller

Faz algum tempo, quando eu acreditava que era alguém. Alguém no sentido de ter aquela coisa especial e de ser aquela coisa especial na vida de outras pessoas. Acho que esta foi a primeira história que contei, e contei pra mim mesmo.
Eu disse para o espectador crédulo dentro de mim, "você tem amigos", aqueles de uma espécie rara que você pode chamar de "melhores". "Sua vida é bonita" eu disse " você nunca vai estar sozinho".
Se aquele leitor, carente, inocente e desavisado tivesse prestado mais atenção, saberia que eu estava mentindo. Histórias inventadas não se transformam em verdades.
Ao longo da minha vida eu continuei criando ilusões para que o meu espectador interior pudesse se alimentar.
E houve um momento em que ele achou que tinha tudo.
Coitado.
Eu o fiz crer, eu o fiz viver aquela mentira, eu fiz se moldar de acordo com aquelas inverdades.
Quando a verdade veio à tona e eu percebi que me enganei, estava realmente sozinho, e tão perdido que quase não consegui lidar com a dor do vazio dentro de mim.
Primeiro eu chorei uma perda inexistente. Depois percebi que não se pode perder o que nunca se teve. Durante muito tempo, eu só repeti o pedido mudo e desesperado: "Por favor, faz passar".
Não passou. Nunca passou.
Mas o tempo faz com que a gente se acostume com a dor.
Hoje o espectador dentro de mim, sofre de depressão e de uma solidão angustiante, mas ainda se alimenta de ilusão. Eu continuo lhe contando histórias na esperança de poder manter sua sanidade.
Eu consigo visualizar a mim mesmo, sentado no canto mais escuro da minha mente, agarrado aos meus próprios joelhos dobrados naquela posição de misericórdia. Alimentando-me de uma essência falsa.
Faz algum tempo, desde que eu acreditei que era alguém. Hoje sou apenas um contador de histórias.