sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

The Story teller

Faz algum tempo, quando eu acreditava que era alguém. Alguém no sentido de ter aquela coisa especial e de ser aquela coisa especial na vida de outras pessoas. Acho que esta foi a primeira história que contei, e contei pra mim mesmo.
Eu disse para o espectador crédulo dentro de mim, "você tem amigos", aqueles de uma espécie rara que você pode chamar de "melhores". "Sua vida é bonita" eu disse " você nunca vai estar sozinho".
Se aquele leitor, carente, inocente e desavisado tivesse prestado mais atenção, saberia que eu estava mentindo. Histórias inventadas não se transformam em verdades.
Ao longo da minha vida eu continuei criando ilusões para que o meu espectador interior pudesse se alimentar.
E houve um momento em que ele achou que tinha tudo.
Coitado.
Eu o fiz crer, eu o fiz viver aquela mentira, eu fiz se moldar de acordo com aquelas inverdades.
Quando a verdade veio à tona e eu percebi que me enganei, estava realmente sozinho, e tão perdido que quase não consegui lidar com a dor do vazio dentro de mim.
Primeiro eu chorei uma perda inexistente. Depois percebi que não se pode perder o que nunca se teve. Durante muito tempo, eu só repeti o pedido mudo e desesperado: "Por favor, faz passar".
Não passou. Nunca passou.
Mas o tempo faz com que a gente se acostume com a dor.
Hoje o espectador dentro de mim, sofre de depressão e de uma solidão angustiante, mas ainda se alimenta de ilusão. Eu continuo lhe contando histórias na esperança de poder manter sua sanidade.
Eu consigo visualizar a mim mesmo, sentado no canto mais escuro da minha mente, agarrado aos meus próprios joelhos dobrados naquela posição de misericórdia. Alimentando-me de uma essência falsa.
Faz algum tempo, desde que eu acreditei que era alguém. Hoje sou apenas um contador de histórias.

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